Professores agredidos são humilhados nas delegacias
Educadores recorrem à Corregedoria e até ao Ministério Público
para registrar queixas
POR CHRISTINA NASCIMENTO - 29/03/2013
diretora da Escola Municipal João Kopke, em Piedade, que foi
espancada por um aluno de 15 anos, acabou na Corregedoria da
Polícia Civil. Mas não foi o único.
“Fui tratada com sarcasmo. Tinha sido esbofeteada, socada.
Passar por esta situação me deixou pior ainda. Um policial não tem que
tomar partido. Ele tem que fazer o trabalho dele, que é registrar o fato”,
afirmou Leila, que procurou a Corregedoria para relatar o tratamento que
recebeu na 24ª DP (Piedade).
Alunos mostram cartazes contra violência na porta de escola municipal
onde a diretora foi espancada
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Situações como a dela são mais comuns do que se imagina.
Professor de uma escola estadual de Brás de Pina foi ridicularizado
ao tentar fazer a queixa na 22ª DP (Penha) contra dois alunos, de 20
e 21 anos, que o agrediram verbalmente.
“Fui atendido por um inspetor que do primeiro ao último momento
se negou a fazer o boletim. Ele disse que a polícia é para resolver
crimes e não problemas escolares”, contou o educador.
Um outro professor de um colégio do Estado, no bairro de Olaria,
não se conformou com as negativas recebidas na delegacia.
Ele foi ao Ministério Público (MP) registrar a ocorrência contra a mãe
de aluno de 13 anos, que invadiu a sala de aula dele e o xingou.
“O policial me disse que não havia necessidade de registro.
Eu falei que ela havia me desacatado. Fui ao setor de inquéritos do MP
e consegui fazer. Lá, tipificaram como perturbação do trabalho.
A mulher entrou na sala, que estava com alunos menores, e gritou que
achava estranho que, em tempos de pedofilia, um professor mandasse
uma criança desenhar órgão reprodutor na prova”, contou ele,
que dá aula de Ciências.
Polícia Civil orienta ir à Corregedoria
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, todos os professores têm o
direito de fazer o registro de ocorrência quando procurarem uma delegacia.
Segundo eles, “o cidadão que se sentir desrespeitado deve procurar
a Corregedoria Interna da Polícia Civil para denunciar”.
A instituição afirmou ainda, em nota, que uma das das principais diretrizes
da gestão da chefe de Polícia Civil, a delegada Martha Rocha, é o bom
atendimento ao público, com respeito, eficiência e ética.
Secretarias admitem: não há política interna antiviolência
Apesar da dificuldade dos professores, a orientação das secretarias
de Educação do Estado e do Município é para que os casos de agressão
sejam registrados na delegacia. Segundo os dois órgãos, não há nenhuma
política interna direcionada para tentar resolver a questão da violência
apenas no âmbito da unidade escolar.
contra professores é muito maior do que se chega ao conhecimento
deles e do governo, já que muitos casos esbarram na recusa da polícia
de fazer a ocorrência.
“O policial está estressado, sobrecarregado, sem equipamento de
trabalho. Quando ele se depara com um professor agredido, ele não
consegue entender que isso é crime, por isso tenta desmotivar o registro”.